A operação militar da Rússia entra no 8º dia, enquanto o governo de Kiev continua seus ataques ao Donbass. Por outro lado, espera-se que a segunda rodada de negociações entre os lados ocorra dentro de dias. A primeira rodada de negociações não produziu o resultado desejado.
Após os eventos Maidan em 2014, o neonazismo começou a crescer no país. Esses grupos neonazistas assumiram a liderança nas operações de Kiev contra o Donbass. Em 8 anos, 2.600 civis foram mortos pelos ataques ucranianos nas Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk, reconhecidas pela Rússia. Os países ocidentais, por outro lado, ignoraram esses ataques.
Conversamos com Andrey Kochetov, presidente do Sindicato de Pequenas e Inovadoras Empresas da República Popular de Lugansk , sobre a intervenção militar em curso da Rússia, a situação na região de Donbass, os conflitos que já duram 8 anos.
A última situação em Donbass
Qual é a situação mais recente no Donbass? Como estão as ruas? Que desafios as pessoas enfrentam?
A situação no Donbass é muito difícil. Mas gostaria de dizer algumas palavras sobre a situação há apenas uma semana. Você vê, o exército ucraniano cingiu quase metade das tropas militares em nosso território dividido em dois grupos: um no sul, outro no norte. Eles cingiram muitas armas. Estávamos esperando que eles nos matassem. Porque era óbvio que eles queriam nos dividir em duas partes e depois disso, eles queriam nos matar um por um. Isso foi há apenas uma semana.
Mas na segunda-feira o presidente Putin decidiu reconhecer nossas repúblicas. Esta decisão forneceu uma proteção realmente muito grande para nós. Nós entendemos isso. A Rússia não apenas nos apoia, como vem fazendo nos últimos oito anos. Eles agora estavam realmente prontos para nos ajudar a proteger nosso povo. E isso causou uma felicidade muito grande para todo o nosso povo, porque estávamos enfraquecidos durante esses oito anos muito longos e difíceis.
‘As pessoas do Donbass se recusam a aceitar o regime nazista’
Como a população de Donetsk e Luhansk reagiu ao início da operação militar?
Eu não sou russo naturalmente. Eu sou ucraniano. Eu realmente amo meu país e estou orgulhoso dele. Mas o país de que me lembro só existe na minha mente, porque agora a Ucrânia é o país dos nazistas. Os nazistas odeiam tudo e todos. Talvez você possa ver muitas fotos de Kiev, Kharkov e outras cidades da Ucrânia, quando as pessoas comuns se reuniam com as metralhadoras para roubar as lojas, atacar as pessoas, matar pessoas. Esta é uma situação terrível. Mas a raiz da situação é o golpe de Estado em Maidan, quando a ideologia nazista chegou ao poder na Ucrânia. O mais triste para nós é que ninguém do governo europeu viu essa situação.
Sabemos que hoje os países ocidentais dizem que Putin é um grande agressor. Mas sabemos que isso não é verdade. Do nosso ponto de vista, ele agora está tentando parar a guerra que começou há oito anos em Maidan em Kiev com o golpe de Estado e quando a região de Donbass, no leste da Ucrânia, se recusou a aceitar o novo regime nazista. É por isso que eles começaram a guerra. Eles usaram o exército regular contra nós. Eles nos bombardearam e nos bombardearam. Para nós, este é o fim da guerra e todo o nosso povo aceita essa situação como “o exército vermelho caiu novamente no quintal nazista”.
‘Nos sentimos muito mais seguros’
Qual é a sua expectativa da operação militar? Como você interpreta o objetivo da operação? Quando isso vai acabar?
Agora a situação é muito difícil, porque o exército ucraniano ainda está nos bombardeando. Por exemplo, ontem em Donetsk, eles bombardearam fortemente, 4 pessoas morreram e 8 pessoas ficaram feridas. Houve muitos danos de civis. Você vê a diferença entre as táticas de dois exércitos. Refiro-me aos exércitos ucraniano e russo. O exército ucraniano fez tudo como o exército dos Estados Unidos. Eles destruíram tudo. Eles destruíram o abastecimento de água e eletricidade. Eles estão sempre bombardeando os civis. Eles fizeram isso durante 8 anos de guerra. Mas agora você pode ver que o exército russo já cercou algumas cidades na Ucrânia. No entanto, você pode ver que, nessas cidades, os cidadãos ainda têm água e eletricidade. Então a Rússia não veio para destruir a Ucrânia ou os ucranianos, ela veio para destruir o regime nazista. Isso é absolutamente verdade.
Agora nos sentimos muito mais seguros do que antes, porque temos a proteção do lado da Rússia. E acreditamos em um bom futuro para nosso povo, para nossas repúblicas e territórios e acreditamos que o regime nazista da Ucrânia será destruído em apenas algumas semanas.
Como eu disse antes, foi uma notícia muito boa ou talvez a melhor, porque para nós esta não é uma situação que começou a guerra, é o começo do fim da guerra. Foi terrível ver a cegueira dos países ocidentais quando eles alimentaram o antigo regime com pesadas armas militares. Agora nosso povo está muito feliz.
‘A maioria do povo ucraniano não quer guerra’
O povo ucraniano confia no governo de Kiev?
Você pode imaginar como as pessoas viveram durante oito anos sob o controle muito pesado da informação e pressão do governo? É interessante ver como nos países ocidentais, as pessoas viam a cor preta e diziam em voz alta que era branca. E se você tentasse recusar, eles o colocariam na cadeia. A mesma situação aconteceu na Ucrânia e posso entender que muitos ucranianos podem apoiar o governo. Mas de qualquer forma, acho que a maioria das pessoas não quer a guerra, eles apoiam a paz e querem sair em um país pacífico que também seja amigável com a federação russa.
‘Kiev decidiu reescrever toda a história do país’
Como você viveu os últimos tempos desde o golpe de 2014 na Ucrânia? Pode descrever a situação que o obrigou a declarar a independência da Ucrânia?
Você vê depois do golpe de Estado, Kiev decidiu reescrever toda a história do país. Durante a Segunda Guerra Mundial, a maioria das pessoas eram defensores da União Soviética. Eles eram soldados que lutavam contra os nazistas fascistas alemães. Mas durante a Segunda Guerra Mundial, também houve muitas pessoas que apoiaram os nazistas, as pessoas das regiões ocidentais da Ucrânia. Eles até lutaram no exército nazista. Agora, a ideologia dessas pessoas chegou ao poder em Kiev. Para nós, é impossível aceitar esta situação. Nunca traímos nossos pais e avós. É por isso que nos levantamos para lutar contra o Kiev, há oito anos.
‘Processo de referendo é possível após as operações’
Existe alguma possibilidade de realizar um referendo após as operações militares? Como na Crimeia…
Acho que sim, haverá referendo, porque Putin está sempre tentando fazer tudo de forma democrática. Eu sei pessoalmente que ele respeita muito a lei e fará tudo de acordo com a lei, então acho que o referendo é possível após o fim da operação militar.
Qual é a sua proposta para a futura constituição política da Ucrânia, você espera uma mudança na integração do estado?
A Ucrânia era composta por cinco outros partidos que têm diferentes religiões, línguas e mentalidades. Portanto, se a Ucrânia quiser manter suas fronteiras como estão, talvez seja a melhor maneira de evitar qualquer conflito no futuro obter a constituição como um país federal que consistirá em regiões federais. Acho que será o melhor. Ou talvez no futuro próximo, veremos alguns outros países no lugar da Ucrânia moderna, quem sabe. Mas em qualquer caso, o regime nazista deve ser derrubado. Porque este regime nos mata.
As revoltas, movimentos políticos, convulsões sociais, revoluções que ocorreram na Rússia, entre o século XIX e inícios do século XX, foram filhas, por assim dizer, de guerras e do conturbado contexto interno do país.
Nessa linha, encontra-se a Revolta dos Dezembristas.
Revolta Dezembrista(imagem sem indicação de crédito)
Alexandre I, czar da Rússia, em 1812, rompeu o Bloqueio Continental à Inglaterra, decretado, em 1806, por Napoleão Bonaparte. Napoleão revidou essa desobediência, invadindo a Rússia e, como notório, a invasão termina com a retirada inglória do exército francês, acossado pelo rigor do inverno e fustigado, ao longo da fuga, pelas tropas russas, causando grandes perdas ao exército napoleônico.
Uma coalizão entre Rússia, Áustria e Prússia que passou para a História como a Sexta Coligação contra Napoleão, leva à Batalha de Paris, em 1814, com a vitória da Coligação e, alguns dias após, à abdicação e exílio de Napoleão na Ilha de Elba.[1]
Porém, essa guerra permitiu, aos russos, o contato com ideais da Revolução Francesa que contagiaram a intelectualidade e parte da nobreza e oficialidade russas.
Os líderes dos Dezembristas eram todos da nobreza e exerciam funções militares. Estavam influenciados por ideias liberais, avançadas para a época e para a Rússia em particular. Desejavam o fim da autocracia e da servidão, como também defendiam a igualdade de todos perante a lei e as liberdades políticas.
Napoleão tinha abolido a servidão, na Polônia, e os reformadores prussianos a aboliram no seu país. A Rússia Imperial e a Romênia eram os únicos países europeus a manter a servidão.
Os conspiradores criaram duas sociedades: uma denominada “Sociedade do Sul” (Южноеобщество) que defendia a ideia da criação de uma república, após a derrocada da autocracia e, outra, a “Sociedade do Norte” (Северноеобщество) que propugnava por uma monarquia constitucional.[2]
Apesar de diferenças em seus programas, os Dezembristas tinham, em comum, o fim da autocracia e planejaram um golpe militar para janeiro de 1826.
Mas, em dezembro de 1825, o Czar Alexandre I faleceu. Os descendentes de Alexandre I faleceram antes dele. Em consequência, seu sucessor deveria ser seu irmão Constantino que era Vice-Rei na Polônia. Mas, Constantino, não querendo alterar seu status, abdicou a favor de Nicolau, irmão mais moço de Constantino e de Alexandre I. Todavia, essa abdicação não era conhecida do público em geral e foi interpretada, pelos Dezembristas, como usurpação por parte de Nicolau.
Os Dezembristas resolveram antecipar o golpe para aquela ocasião.
Na manhã de 26 de dezembro (14 de dezembro, segundo o Calendário Juliano, em vigor, na Rússia, à época) de 1825, um grupo de oficiais,comandando cerca de 3.000 homens, reuniu-se na Praça do Senado de São Petersburgo. Eles se recusaram a jurar lealdade ao novo czar, Nicolau, proclamando sua lealdade ao grão-duque Constantino, irmão de Nicolau, e à constituição dos dezembristas, levando as palavras de ordem “Constantino e a Constituição”. Eles esperavam grandes reforços com a junção ao resto das tropas estacionadas em São Petersburgo, mas isso não aconteceu. A revolta foi ainda mais prejudicada quando seu líder nominal, o príncipe Sergei Petrovich Trubetskoy, mudou de opinião no último minuto e optou por se esconder na embaixada austríaca durante o confronto. Seu segundo em comando, o coronel Bulatov, não foi encontrado. Após uma consulta apressada, os rebeldes nomearam o príncipe Evgeny PetrovichObolensky como seu líder.
Nicolau convocou tropas leais a ele e derrotou os revoltosos, ascendendo ao trono como Nicolau I.
Com a derrota, cinco líderes da Revolta Dezembrista – PyotrGrigoryevichKakhovsky, Pavel IvanovichPestel, Sergey IvanovichMuravyov-Apostol, MikhailPavlovichBestuzhev-Ryumin e KondratyFiodorovichRyleyev, foram condenados à forca, com posterior arrastamento dos corpos pelas ruas e, ainda, esquartejamento. Porém, essa pena desumana que remontava à Idade Média, foi comutada para enforcamento e 121 participantes da Revolta Dezembrista foram condenados ao exílio na Sibéria, cumulada essa pena, com trabalhos forçados.
O governo de Nicolau I caracterizou-se, internamente, pelo fortalecimento da autocracia, um desestímulo à industrialização que iniciava, pois Nicolau a via como uma fonte de distúrbios e pela repressão política. Externamente, foi marcado pela expansão territorial, conquistando a Geórgia e o Azerbaijão, esmagando revoltas separatistas de territórios como ocorreu com a Polônia, em novembro de 1830, abolindo a constituição criada pelos poloneses. Em seu governo, ocorreu a Guerra da Crimeia, onde os russos foram derrotados.
Nicolau I faleceu em fevereiro de 1855 e foi sucedido por seu filho Alexandre II.
A Revolta Dezembrista, apesar de derrotada, deixou um legado ideológico e político que empolgou intelectuais e grande parte da população russa,ao ponto da cunhada do Czar Alexandre II, a Grã-Duquesa Elena Pavlovna Romanova, manter, em seu palácio, um círculo de intelectuais estrangeiros e russos que discutiam, abertamente, a necessidade de reformas políticas e sociais.
Esse clima reformista forçou, por exemplo, a emancipação da servidão o que ocorreu em 1861, no reinado de Alexandre II, cognominado “O Libertador”.
Para evitar a resistência da nobreza à emancipação dos servos, o plano de emancipação propôs:
“(que) os camponeses fossem liberados com terra, pela qual eles teriam de pagar aos proprietários, e além disso eles teriam de passar por um período de obrigação temporária junto aos proprietários das terras. Os pagamentos de resgate seriam escalonados em 60 anos, e o Estado daria à aristocracia uma quantia fixa que os camponeses reembolsariam ao Tesouro.”[3]
O fim da servidão permitiu, aos camponeses, uma maior liberdade de produção e comercialização.
Todavia, uma grande quantidade de terras ainda pertencia à nobreza e os camponeses tinham de pagar arrendamento aos proprietários nobres.
Tal situação proporcionaria, em 1917, uma das principais reivindicações da Revolução de Outubro: a distribuição de terras.
Realmente, Lênin em O desenvolvimento do capitalismo na Rússia, nos fornece um riquíssimo material a esse respeito onde desenvolve o fundamento de que, a própria emancipação dos servos, só fez, em realidade, piorar as condições de vida dos camponeses. O fim da servidão significou o início da segregação entre os grandes proprietários com terras concentradas (burguesia rural) e aqueles que não dispunham de terras férteis e meios para usufruí-la. É nesse sentido que, a falência do campesinato levou a sua crescente proletarização, substituindo o trabalho servil pelo trabalho assalariado.
Outro componente da modernização, realizada no século XIX, estava ligadoà industrialização. Uma grande quantidade de capitais estrangeiros e russos, estes em menor parte, foi investida na construção de indústrias em algumas regiões ocidentais da Rússia. Nesses locais, como São Petersburgo e Moscou, formou-se uma numerosa classe operária originária do campesinato. A concentração operária nessas indústrias superava a existente nas mais desenvolvidas economias do ocidente europeu.
Essas alterações sociais e econômicas geraram contradições com a estrutura autoritária da autocracia czarista.
Na década de 1880, sob a liderança inicial de Georgii Valentinovich Plekanov emerge o marxismo na Rússia. Paralelamente, existiam os “Narodnicks” (populistas), desde 1860, defensores de um “socialismo agrário”, uma visão romântica de um retorno à vida no meio rural, com ênfase na questão da propriedade da terra, desprezando os outros meios de produção.
Os marxistas se organizaram, antes dos narodnicks, criando, em 1898, o Partido Social Democrático dos Trabalhadores Russos (PSDOR) que, em seu Segundo Congresso, realizado em Londres em 1903, dividiu-se em bolcheviques (assim denominados os seguidores da maioria do Segundo Congresso), liderados por Vladimir Ilich Ulianov, Lênin, e em mencheviques (seguidores da minoria), liderados por Plekanov e Iulii Martov.
Os narodnicks, em 1901, fundaram o Partido Socialista Revolucionário da Rússia (SRs) liderados, inicialmente, por Viktor Chernov que, mais tarde, foi Ministro da Agricultura do governo de Kerensky. Os narodniks, ou SRs, tinham, em sua organização interna, um departamento que realizava atos de terrorismo, entre eles o assassinato de Vyacheslav Konstantinovich von Plehve, em 1904, e o do Grão-Duque Sergei Alexandrovich Romanov, em 1905.
Também, em 1905 foi fundado o Partido Constitucional Democrata, conhecido como Kadets[4], liderado por Pavel Nikolayevich Milyukov. Era o partido da burguesia.
Anteriormente, os narodniks, após várias tentativas de assassinar o czar Alexandre II, em 13 de março de 1881, lograram seu objetivo. O jovem Ignaty Ioakhimovich Grinevitsky, membro da organização Naródnaia Vólia (Народнаяволя, Vontade do Povo), jogou uma bomba aos pés do czar que, levado ao Palácio de Inverno (hoje, Museu Hermitage), veio a falecer.
Sucedeu-lhe, no trono imperial, o filho Alexandre III quem, ao contrário do pai, era, em tudo, um conservador, mantendo-se fiel à autocracia. Reprimiu, violentamente, os movimentos sociais e políticos emancipadores.
Essa atmosfera de repressão e reacionarismo acirrou os ânimos dos rebeldes e reformistas. Numa tentativa de assassinar o czar Alexandre III, o irmão mais velho de Lênin, Alexandre Uliánov, foi preso e enforcado em 8 de maio de 1887.
A partir de 1880, a Rússia passou de uma economia basicamente agrícola para industrial.
Serguei Yuylevitch Witte foi Diretor da Ferrovias, dentro do Ministério das Finanças, de 1889 a 1891. Na direção desse organismo, convenceu o Czar Alexandre IIIa construir uma ferrovia que ligasse o centro da Rússia ao Pacífico. A construção da ferrovia começou em 1891 e foi concluída em 1906. Essa ferrovia é conhecida como a Transiberiana, com 9.441 kms, sendo a mais extensa do mundo.
Para encurtar a distância entre o lago Baikal e Vladivostok, cidade portuária junto ao Pacífico e ponto final da ferrovia, Witte conseguiu uma autorização da China para que o último segmento da ferrovia atravessasse a Manchúria, desde que fosse mantida a soberania chinesa.
Mas, a Rússia, sob o pretexto de garantir a segurança da ferrovia, desrespeitou o acordo, enviando unidades militares e policiais para a região. Estava clara, pelo menos para alguns, a intenção da Rússia em anexar, a seu território, a Manchúria.
Por outro lado, o Japão vivia sob novos tempos e objetivos.
Realmente, o Japão que,alguns anos após do período chamado Meiji (1862-1912), abandonara o sistema feudal do Xogunato, com a centralização do poder na figura do imperador, visando a modernização do Japão, aos moldes ocidentais.
Durante o Xogunato que durou de 1603 a 1868, o Japão isolou-se do mundo porque os estrangeiros eram vistos como ”bárbaros” que poderiam destruir a vida e a cultura japonesas.
Todavia, em 1853, uma esquadra americana comandada pelo Comodoro Matthew Calbraith Perry aportou na Baía de Edo (hoje, Tóquio). Sua missão: exigir a abertura dos portos japoneses ao comércio internacional.
O Xogum Tokugawa Iesada não resistiu à investida norte-americana e foi o responsável pelos assim chamados Tratados Desiguais.
Os Tratados Desiguais foram uma série de tratados firmados entre a China,durante a Dinastia Qing, e o Japão do XogunatoTokugawa, com as potências industrializadas ocidentais entre meados do século XIX e o início do século XX após sofrer derrotas militares pelas potências estrangeiras ou na presença de uma ameaça de ação militar por essas potências.
A falta de resistência à imposição dos Tratados Desiguais, levou ao descrédito do Xogunato e começou uma campanha pela centralização do poder na pessoa do imperador o que se concretiza em 1863, com a Era Meiji (meiji significa “governo esclarecido”).
Essa modernização do Japão, ademais de uma forte industrialização do país, incluía a reformulação do exército japonês, tendo como modelo, o exército prussiano, bem como da marinha japonesa, tendo como paradigma a marinha britânicaque foram as bases físicas do militarismo japonês. A Era Meiji despertou, também, um forte nacionalismo entre os japoneses.
Ambos os impérios, da Rússia e do Japão, tinham interesses econômicos e estratégicos na Manchúria, para não dizer em toda a China, e na Península Coreana.
Entre 1894 e 1895 ocorreu a primeira guerra Sino-Japonesa, com a vitória do Japão.Contudo, a Rússia que tinha uma aliança com a França e a Alemanha fez com que os japoneses recuassem em seus objetivos. Em 1902, o Japão celebrou um tratado com a Inglaterra de assistência militar recíproca, bem como obteve o apoio diplomático americano às pretensões territoriais japonesas.
Os interesses do Japão nos territórios dominados pelos chineses eram motivados pela necessidade de criação de colônias japonesas em novos territórios, como forma de amenizar a explosão demográfica do país, assim como de obter fontes de matérias-primas que dessem suporte para o crescimento da indústria japonesa. Ainda, tinham como objetivo alcançar novos mercados consumidores que absorvessem essa produção.
Para a Rússia o que estava em jogo era um acesso, considerado vital, ao Pacífico.
Em fevereiro de 1904, os japoneses atacaram Port Arthur onde estava localizada uma frota naval russa que foi parcialmente destruída, ficando sem condições de combater.
Diante dessa derrota, a Rússia decidiu enviar a Port Arthur a esquadra do Báltico. A Inglaterra que controlava, então, o Canal de Suez, em virtude de seus compromissos com o Japão (Tratado de 1902), proibiu a passagem da esquadra pelo canal.
Como consequência, a esquadra teve de contornar a África para se dirigir a Port Arthur e na altura do Estreito de Tsushima (entre a Península Coreana e o sul do Japão) foi surpreendida pela esquadra japonesa que destruiu dois terços da frotabáltica.
Após mais essa derrota, o Czar Nicolau II buscou negociar a paz porque as perdas militares e econômicas da Rússia já eram enormes. As negociações foram intermediadas pelo então Presidente dos EUA, Theodore Roosevelt, e resultaram no Tratado de Portsmouth que deu ao Japão o controle da Península da Coréia, como também da Manchúria. Mas, a Ferrovia Transiberiana foi mantida pelo Tratado.
A vitória transformou o Japão em potência regional a ser considerada nas questões geopolíticas do Extremo Oriente e incentivou o militarismo, o nacionalismo e as ambições imperialistas japonesas, enquanto, na Rússia, enfraqueceu o regime czarista.
Apesar da Guerra Russo-Japonesa, ou até em virtude dela, a agitação social era uma constante na Rússia.
Por tais motivos, a Okhrana[5] resolveu criar um sindicato trabalhista controlado pela polícia.
Em 1905, em São Petersburgo, ocorreu uma greve na imensa fábrica Putilov[6], devido à demissão injusta de alguns trabalhadores. Movimentos grevistas eclodiram em várias cidades.
Mas, em São Petersburgo, a liderança do sindicato controlado pela polícia era o padre ortodoxo Georgii Apollonovich Gapon que se encontrou num dilema. Precisava, por um lado, apoiar os grevistas, sob pena de perder sua influência no movimento operário e por outro tinha de cumprir as determinações da Okhrana.
Gapon optou pela greve, porém teve a ideia dos trabalhadores apresentarem suas queixas e reivindicações a Nicolau II, através de uma petição, pressupondo que o Czar faria algo que aplacaria os trabalhadores, resolvendo a questão da greve.
Em 9 de janeiro de 1905 (segundo o calendário Juliano), 22 de janeiro (pelo atual calendário) organizou-se uma passeata pacífica em que os trabalhadores, mais de três mil pessoas, carregando ícones religiosos, marcharam em direção ao Palácio de Inverno, enfrentando a neve hibernal. Pretendiam entregar a petição ao Czar na qual pediam melhores condições de trabalho, redução da jornada, o fim da guerra russo-japonesa e o sufrágio universal.
Chegados ao Palácio de Inverno, a guarda palaciana disparou tiros de advertência e em seguida disparou contra a multidão. Junto ao padre Gapon cerca de 40 pessoas foram atingidas pelos disparos, mas Gapon ficou ileso.
O número de mortos e feridos nessa ocasião é, ainda hoje, incerto. Mas, as autoridades da época diziam ter ocorrido 930 mortes e 333 feridos. Comentaristas afirmaram que a neve nas imediações do Palácio ficou totalmente vermelha, tal o banho de sangue.
O sindicato da polícia foi imediatamente desacreditado.
Gapon, após um período no exterior, retornou à Rússia e na pequena cidade de Ozerki, ao norte de S. Petersburgo, foi executado, por enforcamento, numa cabana onde se encontrou com membros do Partido Socialista Revolucionário, em 28 de março (calendário Juliano) correspondente a 10 de abril (segundo o atual calendário) de 1906.
O Domingo Sangrento foi o estopim do processo revolucionário de 1905.
Trabalhadores de toda a Rússia, da Polônia à Sibéria, entraram em greve.
Na primavera, em São Petersburgo, chegou-se a cerca de 1 milhão de grevistas.
Camponeses tomaram terras e assaltavam casas de nobres. No verão, ocorreu o motim dos marinheiros do encouraçado Potenkim, exigindo o fim da autocracia e apoiaram os grevistas de Odessa, antes do internamento na Romênia.
Diante desse quadro, em agosto, o Czar Nicolau divulgou um manifesto que prometia uma legislatura representativa, porém com poderes limitados. Mas, o manifesto imperial não surtiu os efeitos desejados. Ao contrário, fortaleceu o movimento e, na segunda semana de outubro, as greves transformaram-se em greve geral, de caráter político, pleiteando uma república democrática.
Em São Petersburgo, os trabalhadores começaram a formar conselhos (совет,soviet, em russo) inicialmente ao nível das fábricas e depois, em 13 de outubro, reuniram-se para formar um soviete municipal, tomando o nome de Soviete de Deputados dos Trabalhadores. O soviet tinha um Comitê Executivo, responsável pela direção do Conselho e pelo encaminhamento das tarefas discutidas, votadas e decididas em suas assembleias.
Os operários, com o soviete, sentiam-se partícipes e artífices de uma democracia em contraste com a intensa rigidez da estrutura czarista. Se não foram construídos com a finalidade primeira de tomar o poder político, mas pela necessidade de organizar as pautas econômicas dos operários, não deixou de exercer aquela função, isto é, a organização da luta política em direção à transformação da sociedade russa.
Foi este o precedente do Soviete de Petrogrado de 1917.
A greve geral forçou o Czar, ainda em outubro, através de um novo manifesto, a conceder que a Rússia deveria ter uma legislatura representativa que chamou de Duma e algum tipo de constituição. Ou seja, a greve geral abriu caminho para as primeiras eleições parlamentares.
O Manifesto de Outubro mudou completamente o cenário político russo. Grupos liberais e conservadores formaram partidos e muitos revolucionários saíram da clandestinidade, pelo menos parcialmente.
Wite e os ministros produziram uma constituição – as Leis Fundamentais – proclamada no dia da abertura da nova Duma, em 27 de abril de 1906.
O sistema para eleição da Duma era bastante complexo.
A Duma “não era eleita simplesmente com base nas regiões ou em requisitos de votos censitários, mas por meio de um complexo de distritos regionais, do voto indireto e do sistema curial. (….) Ainda acreditando na lealdade do campesinato e no seu conservadorismo social, as eleições para a primeira Duma que aconteceram no inverno de 1905-1906 basearam-se numa distribuição de assentos que favorecia o campesinato. Nicolau estava convencido de que somente as classes médias e altas se opunham à autocracia, mas que os camponeses estavam a seu lado.”[7]
Nicolau dissolveu a Duma em julho, pois considerava impossível trabalhar com ela, na expectativa que novas eleições fossem mais favoráveis. A Revolução de 1905 foi um episódio sangrento, com cerca de 15 mil mortos, a maioria camponeses executados durante a repressão na zona rural. Milhares de trabalhadores e revolucionários também pereceram nos conflitos ocorridos durante as greves ou nas diversas insurreições.
O ato final da Revolução de 1905 aconteceu, em 6 de dezembro, em Moscou. O soviete da cidade convocou uma insurreição armada para derrubar o governo czarista, convocar uma assembleia constituinte e proclamar uma república democrática. Mas, a insurreição foi dominada pelo primeiro-ministro, Sergei Witte.
Todavia, 1905 legou para a História e para o desenrolar do processo revolucionário na Rússia dois instrumentos de luta que se fizeram vitoriosos em outubro de 1917: a greve geral e a instituição do soviete.
Como diz Lênin, em sua (primeira) Carta de Longe:
“A primeira revolução (1905) revolveu profundamente o terreno, arrancou pela raiz preconceitos seculares, despertou para a vida política e para a luta política milhões de operários e dezenas de milhões de camponeses, revelou umas às outras, e ao mundo inteiro, todas as classes (e todos os partidos principais) da sociedade russa na sua verdadeira natureza, na verdadeira correlação dos seus interesses, das suas formas de ação, dos seus objetivos imediatos e futuros. A primeira revolução e a época contra-revolucionária que lhe seguiu (1907-1914), revelaram toda a essência da monarquia tzarista, levaram-na até o último limite, puseram a nu toda a podridão infâmia, todo cinismo e corrupção da corja tzarista com esse monstro, Rasputine, à frente, toda a brutalidade da família Romanov, esses progomistas que inundaram a Rússia com o sangue de judeus, de operários, de revolucionários. (…)
(…) a primeira, a grande revolução de 1905, (…) deu origem à brilhante, à gloriosa revolução de 1917 (…)”[8]
Bibliografia:
Buskovich, Paul – História Concisa da Rússia, São Paulo, Edipro, 2014.
Carr, Edward Hallett – La Revolución Bolchevique (1917-1923) 1, Alianza Editorial, Madrid, 1973.
Gilbert, Martin – A História do Século XX, São Paulo, Ed. Planeta, 3ª. ed., 2016.
Hobsbawm, Eric John Ernest – A Era dos Impérios (1875-1914), São Paulo, Ed. Paz e Terra, 2015.
Hobsbawm, Eric John Ernest– Era dos Extremos, o Breve Século XX, São Paulo, Companhia das Letras, 1995.
Kastelina, Irina Petrovna (КастелинаИринаПетровна); Parfenova, Irina Anatolevna (ПарфеноваИринаАнатольевна); e, Ragulskaia, Galina Vacilevna (РагульскаяГалинаВасильевна) – História da Rússia – guia de estudos para estudantes estrangeiros (ИсторияРоссииучебноепособиедляиностранныхстудетов), Centro de Educação Internacional, Universidade Estatal de Moscou, 2005.
Lenin, V. I., Obras Escolhidas, tomo 2, 2ª edição, Ed. Alfa-Ômega, SP Visentini, Paulo Fagundes – Os Paradoxos da Revolução Russa, Rio de Janeiro, Ed. Alta Books, 2017.
[1] Em 1815, Napoleão fugiu da Ilha de Elba e retornou à França, retomando seu poder. O retorno de Napoleão marca o período histórico francês conhecido como os Cem Dias que terminam com a derrota napoleônica na batalha de Waterloo e o exílio na Ilha de Santa Helena, onde Napoleão faleceu em 1821.
[2]Kastelina, Irina Petrovna (КастелинаИринаПетровна); Parfenova, Irina Anatolevna (ПарфеноваИринаАнатольевна); e, Ragulskaia, Galina Vacilevna (РагульскаяГалинаВасильевна) – História da Rússia – guia de estudos para estudantes estrangeiros (ИсторияРоссииучебноепособиедляиностранныхстудетов), Centro de Educação Internacional, Universidade Estatal de Moscou, 2005, p. 42.
[3]Bushkovitch, Paul – História Concisa da Rússia, SP, Edipro, 2014, p. 209/210
[4] Essa siglaKadetsdecorre das iniciais, em russo, do nome Конституционно-демократическаяпартия.
[5]Okhrana (Охранноеотделениеsignifica Departamento de Segurança), polícia política, criada em 1881, para reprimir os movimentos sociais, a oposição dosNarodniks e do Partido Social-Democrata Russo contrários à autocracia.
[6] Dedicava-se à metalurgia. Após o assassinato do bolchevique Sergei Kirov, passou a denominar-se Fábrica Kirov. Hoje em dia, está privatizada e produz maquinários agrícolas.
By Andrey VladmirovichKochetov Lugansk People’s Republic September 21/2021
Since 2014, war is in the south-east of Ukraine. The two regions did not make changes that the armed coup in Ukraine brought to Ukraine. In May 2014, Donbass residents held a referendum, which was delivered only one question: Do you support the act of state independence of Donetsk / Lugansk national republics? More than 89% of the inhabitants responded positively. In response, the Government of Ukraine applied against the republics of Donbass, contrary to the current constitution, armed forces. But this to the government of Ukraine seemed little. All types of blockades were applied against the residents of Donbass: economic, political, information, humanitarian. In this regard, the President of the Russian Federation Vladimir Putin has signed a decree on the simplification of citizenship by residents of the republics of the Donbass. Since then, more than 700 thousand residents of Donbass have become citizens of the Russian Federation.
On September 19, 2021, a landmark event occurred in the life of the republics of Donbass. This is the opportunity to realize your civil law – to participate in the elections to the State Duma of the Russian Federation. As it does not seem strange, today no one in the media of countries of the West does not discuss that for the Donbass this is the first Russian elections. For warring now, seven years, the republics are not just a loud event, but without exaggeration historical. And it may not even be two (as in Russia), and in three ways: electronic voting at home, distance voting in information centers deployed in all areas of Donbass (as a rule, in schools with computer classes), and finally Everyone has the opportunity to rent free of charge in Rostov. Donetsk authorities organized a comfortable transfer, allocated buses and trains for these purposes.
Since the citizens of the DPR and LNR began to receive passports of the Russian Federation, we have no little about 700 thousand new voters. Even on the scale of a huge country, the digit is impressive, just so will not be afraid. Residents of Donbass became not only the heroes of news and front-line reports, but also full participants in Russian internal political processes.
From objects of domestic policies, they have become subjects – and the transition from one state to another in their case is truly fundamental. Yes, with the recognition of Independence of the DPR and LNR everything is difficult. Even more difficult is the question of the entry of the republics in the Russian Federation. But if you think about, for the self-consciousness of Donbass, this is no longer so paramount as before. Everyone is perfectly understood that these nuances refer to the areas of diplomatic games. Because in reality, the people of Donbass (and participation in elections in the State Duma – an irrefutable proof of this) – already an integral part of Russia. Finally and irrevocable. And any internal political discourse without taking into account their interests is now impossible.
Por Andrey Vladmirovich Kochetov República Popular de Lugansk 21/09/21 Tradução: Humberto Carvalho
Desde 2014,o sudeste da Ucrânia está em guerra. As duas regiões, a República Popular de Donestk e a Republica Popular de Lugansk, não aceitaram as mudanças que o golpe armado na Ucrânia trouxe para os ucranianos. Em maio de 2014, os residentes de Donbass realizaram um referendo, ao qual foi entregue apenas uma pergunta: Você apóia o ato de independência do estado das repúblicas nacionais de Donetsk / Lugansk? Mais de 89% dos habitantes responderam positivamente. Em resposta, o governo da Ucrânia aplicou contra as repúblicas de Donbass, ao contrário da atual constituição, as forças armadas. Mas isso para o governo da Ucrânia parecia pouco. Todos os tipos de bloqueios foram aplicados contra os residentes de Donbass: econômicos, políticos, de informação, humanitários. A este respeito, o presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, assinou um decreto sobre a simplificação da cidadania para os residentes das repúblicas do Donbass. Desde então, mais de 700 mil residentes de Donbass tornaram-se cidadãos da Federação Russa.
Em 19 de setembro de 2021, um evento marcante ocorreu na vida das repúblicas do Donbass. Este foi a oportunidade de realizar o seu direito civil – de participar nas eleições para a Duma Estatal da Federação Russa. Como não parece estranho, hoje ninguém na mídia dos países do Ocidente não discute que para o Donbass estas são as primeiras eleições russas. Por guerrear agora, há sete anos, as repúblicas não são apenas um acontecimento barulhento, mas sem exageros, são marcos históricos. E pode-se votar (como na Rússia)de três maneiras: votação eletrônica em casa, votação à distância em centros de informação implantados em todas as áreas do Donbass (via de regra, em escolas com aulas de informática), onde todos têm a oportunidade de usar os equipamentos gratuitamente em Rostov. As autoridades de Donetsk organizaram um confortável transporte de pessoas, alocando ônibus e trens para esses fins.
Desde que os cidadãos da República Popular de Donestk e da República Popular de Lugansk começaram a receber passaportes da Federação Russa, temos cerca de 700 mil novos eleitores. Mesmo na escala de um país enorme, o dígito é impressionante. Os residentes do Donbass tornaram-se não apenas os heróis das notícias e reportagens da linha de frente, mas também participantes plenos nos processos políticos internos russos.
De objetos de política interna, eles se tornaram sujeitos – e a passagem de um estado a outro, no caso deles, é verdadeiramente fundamental. Sim, com o reconhecimento da Independência da RPD e da RPL tudo ficou difícil. Mas, ainda mais difícil é a questão da entrada das repúblicas na Federação Russa. Mas se você pensar, para a autoconsciência do Donbass, isso não é mais tão importante como antes. Todos sabem perfeitamente que essas nuances se referem às áreas dos jogos diplomáticos. Porque, na realidade, o povo de Donbass (e a participação nas eleições na Duma Estatal é uma prova irrefutável disso) – já é parte integrante da Rússia, finalmente e de forma irrevogável. E qualquer discurso político interno sem levar em conta seus interesses agora é impossível.
ByHeinrich Buecker – September 27/2021 Founder of the Anti-War-Café Berlin, chapter of World Beyond War Member of the German Peace Council Member of the party DIE LINKE Member of Frente Unido America Latina
The federal elections in Germany are marking a historic turning point. With heavy losses of the CDU, the Christian Democratsandthe Social Democrats the era of popular parties in Germany has come to an end.
The Liberal Party (FDP) and the Greens will in all probability bein volved in the next german government. It is currently unclear whether the Christian Democrats or the Social Democrats will provide the german chancellor, the German equivalent of a prime minister.
The new german government – regardless of whether it is led by the Christian Democrats and the Social Democrats – will, by and large, continue the previous policy. Inequality will continue to grow as both CDU and the liberals (FDP) demand relief for high incomes.
Strong resistance from the SPD and the Greensis hardly to be expected. Since the Liberals (FDP) are needed to form a government, there will be no property or inheritance tax worthy of the name.
There will also be no approval of Russian, Chinese and Cuban vaccines or medicines in the fight against Covid-19. Instead very few western pharmaceutical companies and the lobbyists will be able to control the market.
In foreign policy all parties except DIE LINKE stand for further armament, the NATO and exceptthe AFD war missions by the german military a broad. None of the possible government parties want to counter act the aggressive US policy ofen circling Russia and China, which end angers the security of Germany.
The politics of the Nobel Peace Prizelaureate Willy Brandt for détente and disarmament will continue to be replaced by a foreign policy that end angers peace.
The LEFT experienced a debacle, most probably be cause top party leader shadoffered themselves day after day as junior partners to a “red-green-red” government over the past few weeks. On a nation wide average, theLeftParty fell from 9.2 percent in 2017 to just 4.9 percent.
Now it has become clear that the party wasable win three direct mandates, which saves the faction status of DIE LINKE in parliament, where theycan nowcounton 33 seats, although theyfailed to reach 5%. With the LINKE (Left) there is at least one party left in parliament that raises its voice against further social cuts and war.
As a consequence, DIE LINKE must make it now absolutely clear, that it will make no any concessions on its principles of peace policy – no military operations by the german military, no arms exports, an end to the drone murders from German soil, no armed combat drones to lead of wars contrary to international law.
Some within the party call to replace NATO with a security alliance includingRussia, which is a demand of the SPD in Willy Brandt’s time. Others call for a full rejection of NATO.
The fact that the Social Democrats and the Greens saw all this as an obstacle to forming a government with DIE LINKE is proof for their commit ment to interventionism. But without a commitment by the SPD and the Greens to international law, cooperation in a federal government should be absolutely unreasonable for DIE LINKE. All parties that support war missions contrary to international law, must be rejected out right.
Workers and pensionersa like will be made to pay again by whatever government comes into power. Instead of the “shift to the left” that the neoliberal media were warning about, there is now the danger of a clear “shift to the right” in foreign, social and tax policy.
The former DIE LINKE leader Sahra Wagenknecht did criticize the course of her party after the election fiasco. She claimed, that for several years, “rather poor election results” have been achieved. “And I think that has something to do with the fact that the left has moved further and further away in recent years from what it was actually founded for, namely to represent the interests of normal worker sand pensioners. She demanded that “mistakes should now be openly admitted and discussed”.
Out of about 60 million eligible voters, 76% actually participated in the elections. The German CommunistParty (DKP) received about 15.000 votes and the DIE LINKE about 2.300.000 votes.
Small parties might have added to the anti-left trend in these elections. The political party Die Basis, which represents corona-sceptics i.e. received 628.432 votes or 1.4%. The hefty losses of the Christian Democrats were also partly the result of Angela Merkel leaving her post after 16 years and very controversial discussions about who would follow her. Many did not like the chosen leading candidate ArminLaschet.
Por Heinrich Buecker – 27/09/21 Fundador do Café Berlin Anti-guerra Membro do Conselho Alemão pela Paz Membro do partido Die Linke Membro do Frente Unido America Latina Tradução: Humberto Carvalho
As eleições federais na Alemanha estão marcando uma virada histórica. Com pesadas perdas do CDU, dos democratas-cristãos e dos social-democratas, a era desses partidos na Alemanha chegou ao fim.
O Partido Liberal (FDP) e os Verdes estarão muito provavelmente envolvidos no próximo governo alemão. Atualmente não está claro se os democratas-cristãos ou os social-democratas fornecerão o chanceler alemão, o equivalente alemão a um primeiro-ministro.
O novo governo alemão – independentemente de ser liderado pelos democratas-cristãos e pelos sociais-democratas – continuará, em geral, com a política anterior. A desigualdade continuará a crescer à medida que tanto a CDU quanto os liberais (FDP) exigem alívio para altas rendas.
Uma forte resistência do SPD e dos verdes dificilmente é esperada. Uma vez que os liberais (FDP) são necessários para formar um governo, não haverá imposto sobre propriedades, ou herança, digno desse nome.
Também não haverá aprovação de vacinas ou medicamentos russos, chineses ou cubanos na luta contra a Covid-19. Em vez disso, poucas empresas farmacêuticas ocidentais e lobistas vão controlar esse mercado.
Na política externa, todas as partes, exceto DIE LINKE, representam mais armamento, a permanência na OTAN e, exceto as AFD, as missões de guerra dos militares alemães no exterior. Nenhum dos possíveis partidos do governo quer neutralizar a política agressiva dos EUA de cercar a Rússia e a China, que põe em risco a segurança da Alemanha.
A política do ganhador do Prêmio Nobel da Paz Willy Brandt por détente e desarmamento continuará a ser substituída por uma política externa que põe a paz em risco.
A esquerda passou por um desastre, provavelmente porque os principais líderes do partido se ofereceram dia após dia como parceiros menores de um governo “vermelho-verde-vermelho” nas últimas semanas. Em uma média nacional, o Partido de Esquerda caiu de 9,2% em 2017 para apenas 4,9%.
Agora ficou claro que o partido conseguiu conquistar três mandatos diretos, o que salva o status de facção do DIE LINKE no parlamento, onde agora pode contar com 33 cadeiras, embora não tenha chegado a 5%. Com o LINKE (esquerda), há pelo menos um partido no parlamento que levanta sua voz contra novos cortes sociais e contra a guerra.
Como consequência, o DIE LINKE deve deixar agora absolutamente claro que não fará nenhuma concessão aos seus princípios de política de paz – nenhuma operação militar dos militares alemães, nenhuma exportação de armas, o fim dos assassinatos por drones em solo alemão, dizer não aos drones de combate, armados para liderar guerras ao arrepiodo direito internacional.
Alguns dentro do partido pedem a substituição da OTAN por uma aliança de segurança incluindo a Rússia, o que foi uma exigência do SPD na época de Willy Brandt. Outros pedem uma rejeição total da OTAN.
O fato de os sociais-democratas e os verdes considerarem tudo isso um obstáculo à formação de um governo com o DIE LINKE é a prova de seu compromisso com o intervencionismo. Mas sem um compromisso do SPD e dos Verdes com o direito internacional, a cooperação em um governo federal é absolutamente irracional para o Die Linke. Todas as partes que apóiam missões de guerra contrárias ao direito internacional devem ser rejeitadas imediatamente.
Tanto os trabalhadores quanto os aposentados terão que pagar novamente por qualquer governo que chegue ao poder. Em vez da “virada para a esquerda” sobre a qual a mídia neoliberal estava alertando, existe agora o perigo de uma clara “virada para a direita” na política externa, social e tributária.
A ex-líder do DIE LINKE, Sahra Wagenknecht, criticou o curso de seu partido após o fiasco eleitoral. Ela afirmou que, por vários anos, “resultados eleitorais bastante ruins” foram alcançados. “E eu acho que tem algo a ver com o fato de que a esquerda se afastou cada vez mais nos últimos anos daquilo para que foi realmente fundada, ou seja, para representar os interesses dos trabalhadores em atividade, bem como dos aposentados. Ela exigiu que” os erros agora deveriam ser abertamente admitidos e discutidos”.
Dos cerca de 60 milhões de eleitores elegíveis, 76% realmente participaram das eleições. O Partido Comunista Alemão (DKP) recebeu cerca de 15.000 votos e o DIE LINKE cerca de 2.300.000 votos.
Pequenos partidos podem ter contribuído para a tendência anti-esquerda nessas eleições. O partido político Die Basis, que representa os céticos da coroa, ou seja, recebeu 628.432 votos ou 1,4%. As pesadas perdas dos democratas-cristãos também foram em parte o resultado de Angela Merkel deixar seu posto após 16 anos e de discussões muito controversas sobre quem a seguiria. Muitos não gostaram do candidato principal escolhido, Armin Laschet
Lendo o “Camarada” de Jodi Dean, me deparei com uma nota do editor que faz referência à ‘Renascença do Harlem’, que me trouxe à memória meus tempos de professora de inglês no Julinho. Na tentativa de ‘cooptar’ a maior quantidade possível de alunos para dentro da sala de aula, resolvi propor ‘um estudo do rap’. Com este pretexto, e mostrando que a tarefa de compreender suas letras ia muito além do conhecimento que os alunos tinham da língua, levei-os a focar na seguinte pergunta: o que leva um negro estadunidense hoje (1994, vinte e sete anos atrás) a carregar tanta violência, tanto ódio, tanta revolta para sua música? Com isto, propus voltarmos na história e rastrear alguns exemplares de escrita de vários autores que, além de mais simples, indicassem este caminho. Acrescentei ao trabalho que começava com IceT a leitura de dois poemas de Langston Hughes, grande representante da Renascença do Harlem, um dos quais introduz esta reflexão. O poema traz uma linguagem simples e direta, com um ritmo que se move de fraco a forte e a fraco novamente. Mas quando ele volta, o ritmo fraco expressa a força da determinação do narrador de se fazer ver e ouvir.
E aqui chegamos onde eu queria: como foi possível que eu propusesse estudar o racismo estadunidense e não tivesse alcançado a dimensão real do racismo, tanto lá como aqui? Segui sendo racista sem saber! Todos nós (os alunos e eu) ficamos com muita pena dos negros americanos, mas uma parcela bem recortada de ‘americanos’, só dos estadunidenses. E ficamos muito revoltados com o ‘inimigo branco’, que era, também, ‘americano’. Sentimos vergonha de sermos brancos mas não muita, porque, afinal, eram só os ‘americanos’ os malvados. Por quê?
Voltemos, então, ao poema, para começar. O que é que Langston Hughes está reivindicando, quando conclui o poema com a afirmação de ser, também, americano? Igualdade? O narrador passa, primeiro, pela humilhação de ser mandado para a cozinha. Foi lá, no lugar subalterno, que ele aprendeu a rir da desgraça e a crescer, aprendeu que precisava ficar forte. Tão forte que ninguém mais ousasse humilhá-lo, pois era e reivindicava ser “o irmão mais escuro”. Mas aí ele esbarra em algo. E com uma única palavra, uma referência ao futuro (Então.) ele transforma e desfigura toda a luta. Deste momento em diante, a luta perdeu o sentido e ele se voltou para dentro: como sou bonito. E, não vendo saída na própria argumentação, se declara: eu também sou a América. A mesma América de meu irmão branco. Hoje, me pergunto qual América? Aquela imperialista, hegemônica, patriarcal, branca?
Minha compreensão de hoje é que Langston Hughes não encontrou o caminho para o sucesso da luta. Ao contrário, assimilou partes da sociedade branca. O inesquecível Louis Armstrong, outro representante do referido renascimento, encontrou o caminho da ‘América’ rica, a ‘América’ que dançava em casa enquanto seu exército matava, torturava, perseguia, explodia prédios e pessoas pelo mundo afora. Com toda sua história, sua carga de opressão, escravização, injustiça e massacres sucessivos, sobrevivendo a organizações como a Ku-Klux-Klan, muitos pensadores e artistas desta época apenas responderam a algo que pairava acima disso tudo, algo que não tinha nome, não tinha rosto, não tinha um defensor declarado.
Hughes, e Armstrong, e meus alunos e eu demos voz a uma ideologia. Para nós, aqui no Brasil, América se referia aos Estados Unidos da América. Nós éramos apenas ‘latinos’. Meus alunos e eu não havíamos superado o estranhamento produzido pela alienação, que só pode ser superada se superadas as condições que produzem tal estranhamento, resumidamente, o modo de produção capitalista. Vivemos em uma realidade cindida em que as ideias apenas expressam a inversão presente na materialidade que lhes serve de base, como incansavelmente Mauro Iasi afirma. Exatamente por isso, assimilamos e damos voz à ideologia capitalista, este conjunto de representações, de símbolos e significados que evidentemente representam a visão ideal deste mundo e que tem caminho livre para internalização em nossos cérebros desde a formação de nosso superego.
Terry Eagleton didaticamente elencou seis atributos de uma ideologia. Primeiro, há uma identidade unitária para representar um todo, que por isto mesmo será heterogênea e inconsistente, como se verifica ao considerar o último atributo. Depois, terá de ser orientada para a ação e para isto oferecerá motivações, prescrições e metas a serem atingidas. Então, o sujeito ideológico passa pelo processo de racionalização, em que motivações inconscientes e inconfessadas encontram seu modo de expressão. É o terreno ideal do ressentimento e o solo fértil para a proliferação do fascismo. Ainda, é preciso legitimar estas ideias em um ambiente propício para sua anuência tácita. “Estes maloqueiros são um bando de vagabundos que não querem trabalhar.” O quinto atributo é o da universalização da ideologia, em que um interesse se transforma em o interesse, como se não pudesse haver contraponto. “A China vai dominar o mundo. Vai ser o fim da democracia.” Por último, é a sua naturalização, em que a ideologia alcança o senso comum, este mar de incongruências e inconsistências em todos os níveis, do pragmático ao conceitual. “O mundo é assim. Manda quem pode e obedece quem precisa. Pobre vai ser pobre a vida inteira.” É a reificação da vida social, uma segunda natureza da história, aparentemente espontânea, inevitável e inalterável. Soa familiar? Bem, deveria ser, porque anteriormente a Eagleton, Marx já havia desenvolvido a teoria da alienação.
Voltemos pela última vez ao poema: eles sentirão vergonha. Eles, quem? O homem branco que o manda comer na cozinha jamais sentirá vergonha, pena ou arrependimento pela simples razão de que ele não percebe que não é a sua voz que se faz ouvir e sim os interesses do capital. Estamos falando de uma por uma das camadas da ideologia. Estamos falando do mascaramento da luta de classes. O homem que manda o homem comer na cozinha realmente acredita que é superior e que tem direito de comer na sala de jantar e de ser o dono da fábrica onde outros negros trabalham em condições ainda piores do que o ‘escravo de dentro’. Se e quando o homem (e a mulher e os gays e as lésbicas e os e as trans e assexuados e os negros e indígenas e asiáticos e judeus e todos que nascerem, ai, que mar de minorias…) superar o modo de produção capitalista, estará tremendamente ocupado – ao lado do ‘irmão mais escuro’ – construindo uma nova sociedade que produzirá uma nova ideologia e um novo modo de compreender e viver no mundo.
Jodi Dean, no acima citado Camarada, resenha a história e as funções do mesmo, e eu posso me valer de seu trabalho para resgatar as lutas de todos os poetas e saxofonistas (e trompetistas…), dos guerrilheiros e guerreiros, dos Othellos[1] da vida; dos saraus aos Mauros Iasi, que labutaram no passado e no presente por trás e por fora dos véus do senso comum, sua naturalização; desde o processo de racionalização, da legitimação e universalização, para demonstrar que as ideologias podem ser ultrapassadas. Ao ultrapassar a ideologia capitalista é o processo da consciência de classe que pode ter início e a compreensão da luta de classes que se ilumina e que abre o caminho para a luta pela construção do socialismo. E eis que surge a figura do Camarada, figura de pertencimento político, forma de tratamento e o portador de expectativas para a ação. É o sujeito do outro. É aquele que não precisa ser teu amigo e nem mesmo teu conhecido, mas terá de ser alguém que divide uma utopia, que projeta o mesmo ideal transformador. O Camarada pode ser qualquer um, mas nem todo mundo. O espaço ontológico do camarada não é o de “um sujeito fiel, mas uma relação política fiel ao povo dividido como sujeito de uma política igualitária emancipatória”, pois o que hoje liga um camarada a outro é a fidelidade à ideia da construção do socialismo (o eu ideal superado pelo ideal do eu). É, a propósito, o espaço onde a ênfase marxista-leninista da unidade entre teoria e prática encontra seu campo. O indivíduo solitário não pode exercer fidelidade nem à verdade e nem à política, porque o sujeito necessita um corpo. E este é dado pelo Partido.
Não fosse a matéria bruta do Colégio Estadual Júlio de Castilhos; Langston Hughes, Louis Armstrong, Jodi Dean e tantos outros que fornecem valiosa munição; e Mauro Iasi, ensinando a procurar as determinações do real; o Partido Comunista Brasileiro, corpo igualitário e emancipatório deste ideal do eu; e meus camaradas da Célula Internacionalista, minha luta estaria inevitavelmente perdida. Espero ter tempo ainda de refazer meus passos.[2]
[1] Para além da crítica que vê em Othello (Shakespeare, 1604) uma trágica história de ciúme, vejo também um homem negro preso à ideologia de seu tempo que mascarava as intenções expansionistas do Estado apresentando o exército como o mais alto depositário da honra e da glória que um indivíduo podia almejar. Othello ascendeu socialmente servindo a um exército que não o representava e que vergonhosamente o discriminou, condenou sua pretensão de casar-se com uma nobre branca e finalmente o descartou. Foi nada menos que sua fragmentação que o enfraqueceu e o levou a cair presa do maior exemplo de improvisação oportunista de um gênio do mal, seu inimigo mortal, ressentido e vingativo, Iago.
[2] Escrevi este texto ao longo da última semana e no sábado 21 de agosto, após alguns tropeços digitais, participei do curso on line de Iniciação Partidária. Quero deixar registrado meu profundo respeito e a mais sincera gratidão a alguém que nem sonha que eu existo, Jones Manoel. O Youtube me apresentou ao Jones após eu ter assistido a um ou dois vídeos do Tese Onze, de Sabrina Fernandes e uma Rita von Hunty. Adeus Ritas, adeus Sabrinas… Não foram necessários muitos vídeos (apesar de ainda hoje eu esperar pelo domingo, quando entra mais um) para que começasse brotar a curiosidade e o impulso de procurar o PCB. Aqui estou; é com a mais genuína alegria que te saúdo, Camarada Jones Manoel.
Cláudio C S Ribeiro – musician and anthropologist.
The recent Peruvian elections (second turn last June, 6th), declared Pedro Castillo (Free Peru), a primary school teacher and union leader, as President. His political counterpart, the ultra-rightist Keiko Fujimori (Popular Force), did not accept the final ballot box score giving 44 thousand votes pro Castillo. Keiko’s party instigated a legal action, trying to annul the elections, but the appeal was considered unfounded by the Justice and Castillo must be led to the Presidency of Peru, the coming July 28th. Fascists and the radical right have reacted against Castillo’s proclamation with recurring street violence and vandalism. Castillo says he represents a popular movement based on Socialism. He states clearly that Free Peru is a non-communist party that defends property and private enterprises, but fights for human rights and social equity. However, it is as yet too soon to find out which traditional forces are behind Castillo and whether Free Peru could face the structural colonialism of Peruvian society. Keiko Fujimori, whose father Alberto serves long sentence for violation of human rights and political crimes, is investigated as well for false report of electoral fraud and international money laundering. Additionally, Alberto Fujimori’s other two sons are accused of involvement with drugs and different forms of corruption. As is usual in many other countries, the ultra-right movement is supported by dirty capital, local corrupted elite, international corporations and Imperialism, whose only goal is to spread neoliberalism, with radical extractivism, the withdrawal of labour and social security rights and the imposition of new forms of colonization. Even though Free Peru is a lighter force than the “deep” country would need, Castillo and the future Congress have the chance to rearrange Peruvian popular movement and subvert the old unfair social system.
“Reflorestemos nossos corações e mentes”, palavras de Angélica Kaingang, ativista da etnia indígena dos Kaingangues, em live de 16/08 da Fração indígena do PCB pelo canal do YouTube do Poder Popular e mediada pelo camarada Claudio Ribeiro. Reflorestemos. Quem, na sociedade capitalista, sabe o que é, o que realmente compõe uma floresta? Quem sabe como nasce o sol durante as quatro estações? Quem sabe diferenciar seus raios pelo contato com a pele e as plantas? Quem conhece o desenvolvimento de uma ou outra espécie de árvore? Quem entende o rio como um irmão? Quem sente o cheiro de uma cobra venenosa? Quando Angélica e seus irmãos kaingangues se dirigiram ao RU da UFRGS para o almoço, não era no consumo da refeição que eles pensavam. Não era no status do local. Não era em quanto custava uma refeição. Era na ágape tribal. Era no prazer do convívio. Era na ingestão de alimentos que sustentam o corpo; não no consumo que aproxima o ser criado pelo capitalismo de qualquer ente da realidade, seja uma floresta, uma refeição, uma família. Os seres do capitalismo, quando se reúnem em família é para consumir comida e, em geral, álcool. Não é para um contato profundo, real, fluido entre um e outro. Raramente dizemos o que pensamos e ignoramos nossas diferenças. Não as reconhecemos e aceitamos. Não. Nós a negamos. Então, a triste pergunta que fiz à entrevistada precisa de uma resposta que fique clara para toda a população brasileira: se os povos originários pudessem andar livremente pelas terras brasileiras, ela teria sentido vontade/necessidade de ir para a Universidade, esta filha do capitalismo cuja principal função tem sido a de apagar de nossas mentes e corações a existência da floresta?
Jesús Santrich estará presente em todas as nossas lutas!
Ivan Pinheiro
“Levo seus abraços, risos e alegrias compartidas. Deixo-lhes o que fui, tal qual me conheceram, com minha alma desnuda a todo momento; deixo-lhes minhas canções, minhas prosas e meus poemas; deixo-lhes a cor de minhas pinturas e meus pensamentos, como a simples prova de meu apreço sincero e dos meus sonhos”.
O Comandante Jesús Santrich deixou-nos essa despedida premonitória, em 15 de abril de 2018, ainda vivendo em Bogotá, como um dos deputados nomeados pelas FARC, com base em cláusula do acordo que desmobilizou a guerrilha.
Como Iván Márquez (então senador, pelo mesmo critério), ele tinha consciência dos riscos que corria como inimigo do estado terrorista colombiano. Ambos haviam divergido da entrega prévia das armas e denunciavam o descumprimento do acordo por parte do governo e o assassinato de centenas de guerrilheiros desmobilizados. Há dois anos, abandonaram seus mandatos e voltaram às montanhas, para a Segunda Marquetalia.
Conheci os dois em um acampamento das FARC, na selva colombiana, em 2010, durante encontro de alguns dirigentes comunistas latino-americanos com delegação da insurgência, para conhecer seus pontos de vista e estreitar laços de solidariedade. Santrich foi o meu interlocutor, nos horários livres do tempo em que lá permaneci. Na véspera da minha partida, aceitei sua proposta de gravar uma entrevista para divulgação na rádio guerrilheira, após a confirmação de minha segura volta ao Brasil.
Escrevi a respeito dessa reunião o texto “Nas montanhas da Colômbia”, que transcrevo a seguir. Foi publicado no portal do PCB, em 25 de julho de 2010, quando eu cumpria tarefa como secretário geral do Partido.
Mais tarde, durante os diálogos com vistas a uma solução política para o conflito colombiano, estive com eles mais algumas vezes, em Havana, na delegação do Movimento Continental Bolivariano que acompanhava os entendimentos. Jesús Santrich, além de intelectual orgânico e revolucionário exemplar, era poeta, músico e artista plástico, apesar de sua acentuada deficiência visual.
Seu assassinato, em covarde emboscada e em meio a intensas mobilizações populares em seu país, vai se voltar contra o estado terrorista colombiano e o imperialismo estadunidense, que transformou a Colômbia em sua base militar para a América Latina e o Caribe.
Juntando-se aos de Guevara, Marighella, Lamarca e tantos outros heróis da Nuestra America assassinados pelos nossos inimigos, o exemplo de Jesús Santrich será mais uma inspiração, entre os revolucionários, em todas as formas de lutas anticapitalistas e anti-imperialistas.